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Capa - Joaquim Cortés

Que Feitiço é Esse?

A Cigana Sitandra partiu em busca de seu coração corajosa e com a certeza de encontrar!

Durante o dia praticava quiromancia, durante a noite ficava em seu apartamento esperando, ela sabia que o feitiço cigano mais dia menos dia lhe traria seu amor. Sabia que seu coração não a enganaria tanto.

Passaram cinco meses e ela continuava procurando em cada rosto que lhe estremecia por dentro, ao passar por ela. Foram tantos os enganos que ela cometeu, afinal ele era só um rapazinho de mais ou menos 16 anos e os meninos mudam muito ao tornar-se adultos.

Hoje Sitandra não saiu para ler a sorte, estava sentindo algo inexplicável em seu coração. Foi até a pracinha da cidade ler nas águas de um lago que ela sempre lia nas águas para saber de casa e sua família estava bem! Mas seu coração continuava apreensivo. Voltou para casa banhou-se colocou suas saias e ligou o som para dançar. Mas desistiu não dançou... Foi deitar-se pensativa, também, lá não havia um “tocante” para alegrá-la.

Sitandra está deitada, o sono não vinha... Rolou na cama de um lado para o outro com pensamentos fervilhando:

=Meus dias logo se findam e onde está minha vida?

Ouve baterem na porta muito leve. Ela pula da cama com o coração aos saltos. Sabe que algo bom vai acontecer agora! Quando abre.... quase desfalece... quando ouve aquela voz inesquecível... Mas, mantém a calma! Segura-se no portal e diz:

= O que deseja?

- Olá moça!

Sitandra mesmo sentindo seu destino tão próximo não quer errar novamente...

Atende com uma das mãos segurando a porta e com a outra segurando na barra das saias trazendo até a cintura e pergunta

= Quem é você?

É um homem muito bonito! Com um violão de sete cordas e um olhar esperançoso que responde assim:

- Boa pergunta

= O que faz em meu AP? De onde me conhece?

- Te conheço de meus sonhos, vim te pedir abrigo, te pedir calor

= Boa noite moço sonhador! Sou Sitandra a cigana. Como é seu nome?

- Me chamam de muitos nomes... O mais conhecido é Le Mât... O francês

Sitandra sentiu o chão fugir de seus pés... Mas continuou incrédula depois de errar tantas vezes achando ter encontrado seu Frances. Poderia ser mais uma coincidência! Lê Mât não é um nome é uma alcunha. Ela continua:

= Buenas noches Le Mât! Você é bem bonito! De onde vens?

- Venho dos quatro cantos, e vou para onde minha historia ousar me carregar... Procuro algo que se esconde de mim por toda minha existência, mas que tenho certeza que existe... Só poderei dizer que cheguei ao meu destino quando me encontrar com esse algo que desejo

= Homens bronzeados me fascinam, és casado? - Tens dona?

- Sou casado com o vento, a ele pertenço somente ele acompanho, tu és bela cigana, tens dono? Tens alguém a quem chame de “lar”?

= Tenho sim! Um Francês que achei que gostava muito de mim. Mas eu sou dona de meus atos e de mim mesmo! Se quiseres podes adentrar a meu lar

- Sou grato pela hospitalidade, parece ser muito dona de si, para onde seus caminhos tem te levado cigana?

= Para lugar algum e a todo lugar onde sou solicitada, sou um pássaro livre. Dou prazer a quem me agrada! E você? És muito charmoso! Conhece o Povo Cigano? Já estivesses em um acampamento cigano?

- Sim! Já estive! E se me vês radiante assim é porque estou ao lado de uma peça rara da natureza... Cigana! Mulher do coração livre! Imagino ver-te bailando a minha volta como o vento que se enamora de mim... Em meus pensamentos, tu tens passos graciosos que me fazem querer ver- te rodopiando...

Trago comigo minha viola espanhola que me acompanha nas noites de alegria e nos dias de solidão.

= Ela é muito linda e rara! És “tocante”?

- O melhor! E quero que dance para mim! Você me atende Cigana?

= Chega-te a mim para que olhe em meus olhos e me diga isso novamente! Tocarás para que eu dance?

- Atenderias a esse pedido? Como cortesia...

= Com todo prazer cavalheiro o que irá tocar?

- Tocarei um flamenco, que ouvi certa vez em minhas noites ao redor do fogo... Essa canção fará com que seu corpo deslize no ar como uma pluma ao vento Chama-se "Corazón Flamenco” Fala da Cigana que me dá vida!

Quero ver até onde seu corpo pode sentir as notas de minha viola

= Parece que já me conheces Francês. Me dê sua rosa. Para meu cabelo, pegarei meu leque e castanholas, aguarde-me.

Sitandra voltou com um lenço cobrindo o rosto deixando somente seus grandes olhos á mostra, castanholas que segurava na mão direita e o leque aberto na mão esquerda na altura do peito.

O Frances a olha encantado e deixa escapar a admiração:

- Ah cigana dos olhos felinos... Queres me encantar?

Com um movimento brusco Sitandra segurou entre os dedos da mão que está com o leque a barra da saia e levanta em arco elevando-a até os quadris. Estica o corpo, olha para o lado fazendo seus cabelos voarem, e marca o passo para o som da viola do Francês... Le... Mat...

Na outra mão, golpeia as castanholas com os dedos médio e anelar da mão esquerda no compasso da “Bulería” que acompanha o flamenco nesse compasso.

- 1 2 [3] 4 5 [6] 7 [8] 9 [10] 11 [12] - Solta as saias e rodopia! no final do rodopio solta o lenço do prendedor que estava na altura dos olhos e vai abaixando conforme bate os pés olhando o Frances nos olhos. Expressão firme! Até que solta completamente o lenço deixando pendurado em seu cabelo. Desliza os primeiros passos do próximo rodopio com leveza, mas com "golpes” felinos.

Fazendo o assoalho tremer com a "batida dos saltos no chão". Caminha ao encontro do Frances enquanto ele dedilha sua canção misteriosa. Porem:

Muito mais maviosa aos ouvidos de Sitandra que baila com entusiasmo para esse viajante misterioso. Sente-se livre! Diante dos olhos encantados do Frances, golpeando forte com chutes curtos a barra de suas saias conclui a "planta"! (que são as batidas com as pontas dos pés.

O Frances entusiasmado com a moça ter gostado tanto de sua música, diz com voz melosa.

- Isso, deslize... Rodopie... Quero ver seus cabelos esvoaçarem... Quero seu corpo vibrando ao som das cordas.

E a Cigana dança, mas rápido... Mais rápido... Em rodopios e evoluções cadenciadas. Estes são os acordes mais rápidos que o Frances pode tirar de sua viola para acompanhar os movimentos de Sitandra em evoluções.

Olhos vidrados em seu “tocante” que a observa senhor de si.

Saias voando ao som rápido e Caliente de seu admirador

Sitandra baila com prazer para seu misterioso moreno enquanto voam as saias e o suor lhe escorre deixando sua pele com um leve brilho de lua.

A canção fica mais intensa... O Frances não consegue se manter sentado... Fica de pé... Tocando... Fitando a moça com notável desejo, ela abre o leque na frente do rosto, deixando só os olhos em destaque. Ao sentir a proximidade daquele homem impressionante que a fascina aumenta a velocidade de seu “vibrato”, de seus rodopios, seu corpo está suado pelo movimento frenético da dança e por sentir tão perto este visitante que a intriga. Ele lhe diz com a voz quente:

- Que feitiço será esse Cigana?

E continua tocar cada vez mais rápido, e mais próximo de Sitandra, que com suas castanholas faz o ritmo quente dos ciganos.

O Frances está tão perto de Sitandra que pode sentir o cheiro que emana dela, um aroma adocicado que evapora do corpo suado, Ele fala sensual com ela e ela com sua dança lhe responde no mesmo tom:

- Esses olhos não podem ser reais... Entram em minha alma,... Conduzem minha música, me faz te desejar e querer pertencer a ti.

A Cigana continua dançando e rodopiando em silencio, só seus olhos falam palavras que só o coração dele entende. Toda sala emana o cheiro dela, cheiro mistico amadeirado evaporado pelo calor em que está seu corpo.

- Você me fascina e mesmo que eu não queira me induz a jogar o seu jogo....

É tarde! Ele foi pego pela magia da Cigana. Sitandra esbanja sensualidade que é respondida pelo corpo do seu misterioso "tocante". O suor escorre pelo pescoço dele descendo pelo peito e sendo acompanhado pelos olhos da cigana até sumir

no final da abertura da camisa branca que já está colada no corpo e ele fala emocionado:

- Já não sou mais Lê Mât... Nem um “tocante”... Sou uma extensão da magia que a cigana espalhou pelo ar... Tudo que vejo são seus olhos... Seu corpo... Tudo que ouço é o som de suas castanholas... Terei eu encontrado aquele algo que tem me impulsionado em minha jornada? Uma explosão de sentimentos domina meu ser, eu poderia tocar esta canção pela eternidade... Te ver dançar... Embriagar-me com seu cheiro gostoso... Cada movimento seu me faz sentir como se estivesses entrando em mim...

Sitandra sorri! ele vê pelos olhos dela que se tornaram dois risquinhos curvos por trás do leque e pergunta insinuante:

- Que sorriso malicioso... O que escondes?

Sitandra não responde, continua seus passos fortes e rodopio das saias que o deixam eufórico.

- Sitandra, minha doce Sitandra... Seria você o vento que me trouxe? Sitandra minha querida Sitandra, corra suas mãos em mim... Deixa-me sentir sua respiração perto de mim.... assim...

Ele põe a mão por dentro da camisa e acaricia o peito... E sente o desejo fasicar nos olhos da Cigana ... Mas.. Dessa vez Lê Mât não está usando de sua sensualidade para conquistar! Ele já foi conquistado. Ele só quer ter essa mulher por toda sua eternidade. E a Cigana que está em suspensão por uma espécie de magia do amor fala docemente:

= Só de te ver tocar, me arrepia a pele como se eu fosse invadida por choques térmicos, eu me rendo pacifica á seus desejos hipnóticos, desejos que me atravessam deixando-me sentir no corpo, na pele, na alma toda magia do momento. Sua pele tem um quê de pecado, posso toca- lo?

- Sim minha Cigana mágica. Eu desejo que voce... Toque em mim.

Sitandra se aproxima devagar, estende a mão lentamente na direção do "tocante" encantador, como se tivesse receio de que fosse um sonho e ele evaporasse como tantas outras vezes... E toca no rosto dele...

= Oh!!! como é bom sentir em meus dedos o seu calor... Sua pele transpira como gêiser enviando jatos em minha mão... E sua boca... Ela é tão perfeita! Gosta de meus dedos sobre ela?

- Gosto de tudo em você dançarina do vento...

O Frances encosta o violão na parede, mas a canção parece ainda soar por todo recinto e a magia continua entre os dois.

= Pode tocar-me! Dê-me suas mãos, coloque-as aqui assim, em minha cintura. Gostas do que vê? Do que toca?

- Sim... Gosto! Também gosto de seus dedos... Cada curva de seu corpo perfeitamente desenhado, deixe-me embrenhar em seus cabelos...

Em toda minha caminhada, nunca encontrei nada nem ninguém, comparado a ti... Quero seu corpo colado no meu...

= Então venha dançar comigo. Pegue-me assim pela cintura com a mão esquerda firme, ponha a mão espalmada em minha lombar. Tem que me sentir; isso! Dê-me a outra mão, cole em mim...

- Sim minha Cigana. Quero falar baixinho com a boca quase colada na sua...

Mãos entrelaçadas, olhos nos olhos... Cigana você me enfeitiçou! Agora quero sentir seu gosto de mulher. Sentiu como sou hábil com meus dedilhados? Quer sentir-se como a minha viola, quando a faço cantar com cada nota que dedilho?

= Gosto de seu corpo colado assim, não solte a pegada Frances! Corpo colado, coxas coladas continue está bom! Sinto sua respiração.

E ele fala ensandecido de paixão; O Frances é um exímio dançarino, mas se fez de bobo para sentir a cigana e toda aquela magia. Em um dado momento ele desliza as mãos pelas coxas da cigana erguendo levemente seu vestido... Respirando bem perto do ouvido dela. Nesse balanço... Nesse compasso... Nessa dança, O cheiro dela desperta "o louco" que há no Frances!

- Você me quer Cigana? Eu te quero! Quero beijar-te, abraçar-te...

Que feitiço é esse? Como me trouxeste para tão perto de ti?

Quando ele cola nela, Sitandra vê no pescoço do francês pendurado em sua correntinha por dentro da camisa, o anel do seu cabelo e de nada mais duvida.

= Quem te trouxe foi o amor meu francês! Tu és o meu cavalheiro. O menino francês que salvei a anos atrás, eu te dei um anel do meu cabelo que dividisses comigo. Isto é a prova que sou unida para sempre a você. Vejo que você ainda o possui. Você não me esqueceu como eu não te esqueci.

Os dois esquecem a dança flamenca e fazem a dança do amor ali no chão! No tapete do apartamento, matando um pouquinho daquela imensa saudade de tantos anos sem se tocar! Sem se ver! Sem o cheiro da pele. Até amanhecer...

....

 


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