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Capa - Joaquim Cortés

Sitandra

Na tribo de Cam hoje é dia de festa!

O Povo Cigano presa muito o amor a natureza e as suas tradições. Hoje no Clã de Cam. Terá uma grande comemoração! A menina Sitandra completa 15 anos de idade e é costume entre os Ciganos comemorar a iniciação na vida adulta, com muita pompa. Sitandra é uma mocinha muito formosa e sensual mesmo com sua pouca idade. Na clareira do acampamento do Clã de CAM crepita um enorme fogueira, por ser noite de lua cheia os Ciganos cantam e dançam em volta da fogueira anunciando o rito da Debutante.

Todas as moças cantam em uma grande roda em volta da ciganinha, os homens, “os jovens” tocam suas violas, os mais velhos preparam unguentos para as ciganas mais velhas e com muita sabedoria ungir o corpo da menina, para que a Deusa Kali lhe dê sabedoria, discernimento, coragem, saúde, felicidade, magia e um grande casamento.

A festa está alta, A ciganinha está sendo preparada para unção, as moças cobriram o corpo de Sitandra com flores brancas e vermelhas as senhoras cantam enquanto pedem força e sabedoria a deusa Kali.

De repente... Ouve-se um grito forte e um barulho na floresta. Todos se calam...

O ritual é interrompido e esperam em silêncio.

Sitandra que é muito afoita e corajosa levanta-se jogando longe as flores que cobriam seu corpo, apanha alguns panos se enrola e vai correndo ligeira como uma lebre ver o que aconteceu, tentam em vão segurá-la, mas a menina não dá ouvidos e embrenha-se na mata.

Neste momento a lua se esconde deixando a floresta escura, mas a corajosa menina continua sua busca, corre por entre as árvores rasgando suas vestes nos galhos por onde passa, mas ela tem certeza que ouviu alguém pedir socorro e por nada no mundo iria negar ajuda a quem precisa. Sitandra conhece a floresta e vai seguindo de onde acha que veio o som até que avista algo no chão às margens do rio. Fica atenta.

Vai chegando perto bem devagarzinho pé ante pé até que vê um homem jogado meio de lado com o rosto e a camisa branca sujos de sangue. Sitandra aproxima-se o máximo para ver se o homem está morto porque ele está imóvel! Ela sente o pulso dele, sua respiração, ele está vivo... Mas, bem machucado.

A Ciganinha arrasta como pode o homem até a beira do rio, rasga um pedaço de sua roupa improvisada abre à camisa dele e limpa a ferida que parece ter sido feita com uma faca de caça, limpa o sangue do rosto e vê que é apenas um rapaz.

Ao contato com a água fria ele gemeu baixinho; Sitandra pede que se acalme que está salvo do que quer que tenha acontecido. Ele desmaia novamente. Sitandra retira-lhe a camisa e faz de travesseiro. E continua a cuidar dos ferimentos. Na testa do rapaz tem uma fenda feita por uma pancada violenta, ao limpar seu rosto ela nota que ele é muito bonito deve ter uns dezoito anos no máximo, longos cabelos negros e corpo atlético.

Ele desperta e se retrai assustado, vai se retraindo de costas até encostar-se na árvore, dizendo frases que Sitandra não compreende

- “S'il vous plait ne pas me blesser plus ... Je ne sais pas où l'or est ...”

(- "Por favor, não me machuque mais... Eu não sei onde está o ouro)

Sitandra levantou-se, apoiou uma das mãos sobre o quadril, levantando a sobrancelha... E disse:

=

calma Rapaz! Que vergonha com medo de uma moça?

O rapaz percebeu que está diante de uma mocinha e ffica envergonhado! Claro que ela não é alguém que pudesse feri-lo.

- “Je suis désolé Mademoiselle ne comprends pas.”

("Me desculpe senhorita não me entende?")

Disse o rapaz a Sitandra que ficou mais aborrecida por não ter entendido e pensou:

= "Não entendo nada do que ele me diz... O que farei"?

Então resolveu!

= Vem comigo!

Disse ao menino estendendo a mão, ele a olhava desconfiado.

“Também, uma moça bonita vestida dessa maneira, no meio de uma floresta que ele nem sabe como chegou” ele fica olhando indeciso para a mão estendida de Sitandra que diz agora com aspereza.

= Voce não vem?

Ele notando que a moça estava decidida, levanta cambaleante, segura a mão dela e fla novamente na lingua que ela não entende:

- “Où est ma guitare? Ne voit pas le mademoiselle?”

(Onde está minha guitarra? A senhorita não viu?)

Ela novamente levanta a sobrancelha e puxa o rapaz.

Ele a detém e começa a procurar algo pelas moitas até que...

-“voici” (aqui está)

Grita o rapaz muito feliz, apanhando um violão negro e reluzente no mato, depois acompanha Sitandra... Em silêncio, olhando-a de vez em quando admirando a suave beleza da ciganinha. Chegaram ao acampamento seus pais abraçaram sua menina, felizes por estar de volta sã e salva, estavam a procura dela e não haviam encontrado. Ela aponta para o rapaz que até então ninguém havia percebido tamanha foi a alegria de ver sua menina bem.

- Quem é?

Pergunta seu pai sério. Ela responde:

= Eu o encontrei desacordado as margens do rio papai, eu não consegui compreender nada do que ele falou.

Todos olharam para o menino sem camisa todo enfaixado com os pedaços que faltavam na veste de Sitandra.

Ele abaixa a cabeça. Um velho cigano aproxima-se pôs a mão no ombro do rapaz com afeto e perguntou:

- De onde vens?

O rapaz só entendeu que foi uma indagação e respondeu o que achou que estava sendo perguntado:

- “Le Mat Seigneur, mon nom est Le Mat du Javoir

(Mat senhor! Meu nome lê Mât de Javoir)

O velho cigano diz ao povo:

- O gadgê é Frances e seu nome é Le Mat. Como uma carta do baralho cigano "O Sarcástico"

-ofereceram roupas, deram de comer e de beber ao rapaz, o velho Gisleno atuou como interprete de Mat e como ainda era noite Começou todo o aparato da anunciação e para ungir Sitandra como a Princesa da tribo.

Mat olhava fascinado! Tudo aquilo era novo para ele, um povo unido, coeso. Ele tinha sido surrado por um parente seu que queria saber sobre o ouro da família. Mat é trapezista e músico do circo de sua família. E agora estava perdido, quando dessem falta dele o circo já estaria longe. Na briga com seu primo mais velho e mais forte... Ao surrá-lo ele foi atirado fora do caminhão.

Gisleno acalmou-o dizendo a ele que quando amanhecesse o levaria para fora da floresta e encontrariam sua família.

Mat cantou, tocou e dançou com os ciganos durante toda a noite. E desejou que não amanhecesse.

"Só foi trancado em um trailer na hora da unção de Sitandra, afinal ele é um gadgê, um estranho."

A fogueira queimou perfeita por toda noite e madrugada. Sitandra bailava como nunca, Mat fascinado não parava de olhar, o bailado da ciganinha que girava e jogava suas saias, os cabelos passavam perto do rosto de dele como um assobio do vento. Os pés batiam rápidos no chão em uma harmoniosa cadencia que fazia pulsar seu coração como o sapateado, as mãos sinuosas da ciganinha dançarina encantavam o rapaz, quando ela batia suas castanholas.

Começa a amanhecer! O Sol joga sobre a floresta negra seus raios multicores, está na hora de Mat partir, Os pais de Sitandra notaram os olhares que os dois jovens trocavam!

- Precisamos separá-los mais que depressa.

Disseram entre eles. Ciganos não admitem um Gadgê “ou gadjô” entre eles. As famílias costumam unir-se por linhagens matrilineares e patrilineares, que chamamos:

“Kumpanias” quando várias famílias de linhagens diferentes se agrupam unidas por interesses econômicos. A pessoa mais capacitada exerce posição de liderança e escolhe maridos entre eles para suas filhas.

Um cigano é muito diferente de um Gadjô, como diferentes são seus costumes e seus valores, entre os ciganos predominam as relações de confiança embora existam alguns tabus e certa organização.

Gisleno levou Mat à fronteira da civilização, e mandou avisar na cidade que se encontrava ali o francesinho trapezista. Algumas horas depois chegou um automóvel para levar embora o gadgê que deixou Sitandra encantada. Ao entrar no automóvel Mat olha para trás e vê a doce ciganinha entre as folhagens a olhá-lo partir.

Sentiu um aperto no coração que doía mais que seus ferimentos.

Entrou no carro e ficou olhando pelo vidro a floresta desaparecendo...

 


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