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Capa - Joaquim Cortés

Lá españolita..

Saiu do Peru com 23 anos e “girou mundo”. Várias vezes foi convidado para gravar, para ser um Astro da música e não aceitou, ele gostava mesmo dessa vida errante que vive agora, desse povo humilde que o beija e abraça como seu Rei. Mât tem consciência de sua bela “estampa masculina”! E aproveita disso, ele não é hipócrita! Mantêm sempre os cabelos longos, dificilmente os prende, só em ultimo caso, porque seus cabelos proporcionam um delinear misterioso e sensual em sua face bronzeada.

Usa sempre a camisa aberta onde aparece o seu peito musculoso sem exagero. O seu belo e torneado tórax e uma pequena amostra de seu abdômen, que não fica todo de fora por manter as camisas por dentro das calças propositalmente é claro! Gosta de ostentar um cinto largo com uma fivela de prata que ganhou de seu avô. o Velho Murad. Um homem sábio e querido que lhe ensinou a tocar músicas Flamencas em “una Guitarra española.”

Mantém sempre as unhas bem cuidadas, um belo sorriso no rosto e carrega seu violão pela metade do braço chamando atenção aonde chega. Isto é um sinal de confiança em si mesmo. Tudo que ele faz, é em prol da sua sensualidade.

Mat já teve muitas mulheres por esse mundo a fora! Acabou com vários casamentos ditos felizes! Destruiu corações, teve vários amores, mas seu coração não finca raízes, algo está lhe faltando deixando-o por diversas vezes em profunda depressão. Quando isso acontece deixa o Frances descontrolado e nesses momentos ele bebe demais sendo carregado para casa, isso quando não provoca brigas, pois sua beleza selvagem enlouquece as mulheres e ele estando de “carraspana” não dá a mínima se elas estão acompanhadas.

Quando a mulher lhe interessa, estando ou não sozinha, Mat encosta-se no balcão do bar apoiando-se com os cotovelos e cruzando as pernas, (que por sinal, são lindas) abaixa levemente a cabeça fazendo com que seus cabelos caiam sobre os olhos que no momento estão apertadinhos e sedutores e sorri...

Não é bem um sorriso... É somente um trejeito com os lábios em curva, que mostra sua carreira de dentes brancos e certinhos... Pronto!

“Cadê que a Chica tira mais o olho!” Humm...

É nesta hora que o macho enciumado “parte para dentro”

Lê Mât mesmo ébrio, esquivava-se de uma maneira impressionante, como se fosse uma dança. Os fregueses do bar fazem: Ohhhhhh!!! Deixando o frances orgulhoso de suas peripécias.

Mât deixa o violão com o barman e espera... Quando o Chico ataca, ele desfere um golpe por baixo do queixo deixando o machão estatelado de costas no chão, "à nocaute". Apanha seu copo no balcão e ainda olhando de lado vira de uma só vez toda bebida, passa as costas da mão sobre os lábios apanha seu violão, ainda dando aquela olhadinha final de ladinho na cena, e vai embora com passos trôpegos, mas com uma elegância selvagem, tipo o andar dos felinos. Sem se importar com a mulher ajoelhada diante de seu homem desmaiado e com os olhos pregados na figura que se vai, a mão na boca pelo espanto que a cena causou e o coração aos berros:

- “EU QUERO ESSE HOMEM.”

O Barman não o detém, sabe que na manhã seguinte, ou no mais tardar a tardinha, esse Frances misterioso voltará e lhe pagará o que lhe é de direito.

O Barman olha a cena e sorri, gosta de dizer aos fregueses presentes que Mât é seu amigo. Ele Diz isso com um movimento de cabeça que mostra seu orgulho:

- Esse que saiu é Lê Mât o Frances! Ele é meu amigão, eu apelidei esse golpe que ele dá de “mamãe”!

Um curioso lá no fundo pergunta:

- Aê, amigo... Porque mamãe?

O barman responde sorrindo orgulhoso!

- Porque é a mamãe que põe o neném malcriado pra dormir.

As gargalhadas foram geral concordando com ele e olhando para o grandalhão que ainda estava no chão "dormindo" e sendo surrado na cara pela mulher dele que estava envergonhada e queria ir embora, mas o marido estava estatelado!

O Barman sorri satisfeito e volta a seus afazeres.

- Assim é Lê Mât! Sonhador, apaixonado pela vida, alegre, radical. Mas com aquele “não sei o quê” que lhe falta.

Num belo dia Mât foi convidado a cantar em uma Quermesse, o que aceitou de bom grado. É assim que ele gosta de estar! “entre o povo”

-Lá estava Mât rodeado de mulheres tocando uma canção das suas preferidas, a que seu avô gostava e lhe ensinou: “Lá españolita”.

Nisso, achegou-se a ele um senhor elegante e ficou ouvindo de olhos fechados cantarolando junto

(...)“Lá españolita...

Era o primor da flor que veio de Madri.

Dulce, Margari...ida

E outros nomes ela usou por aqui...”

Não quis ficar em Madri...i...i

Quis esquecer aqui

Sua vi..ida vestiu sem fantasia

Escondeu...e...eu tanta melancoli..ia

Lá españolita..

Que um grande amor

Deixou ficar lá em Madri

Pobre floresci...ida

Se desfolhou aqui

Lá españolita..

Se desfolhou aqui...i...i".

Quando Mât terminou de cantar o senhor perguntou:

- Rapaz você recebe por cantar?

- Não aqui meu amigo! Por quê?

O senhor pôs a mão em no ombro dele e falou melancólico com lágrimas nos olhos:

-Você me fez em minutos entender o que eu procurava a tempos meu rapaz! Eu me casei, tive filhos que se casaram, fui muito feliz!

“Mas sentia falta de alguma coisa e isso me deixava “frustrado”

Quando minha querida Juanita se foi... “que Deus a tenha”!

Achei que essa... Essa solidão... Digamos assim! Era apenas um aviso de que eu a perderia. Essa coisa de premonição entende? Mas ao te ouvir cantar esta música me veio em um estalo sobre o que me faz tanta falta Obrigado meu rapaz!

O Senhor deu a Mât um chegue com uma grande quantia que ele rejeitou com educação e gentileza dizendo ao senhor:

- Não quero seu dinheiro Sr.! Não pense que é por orgulho, por favor!. É que eu me senti feliz em ajudá-lo... Mas tem uma coisa que seria de maior “paga” que toda essa quantia!

- O que meu rapaz?

- Que o senhor me conte qual foi a maravilha que eu lhe proporcionei.

O senhor encaminha-se até o tesoureiro da Quermesse com um largo sorriso, retira o paletó, a gravata, abre a camisa deixando alguns fios de pelo branco escapulirem sobre a abertura que se fez e diz:

- Meu querido amigo... Como é mesmo seu nome?

- Lê Mât senhor!

- Pois bem Mât!

Para de falar por instantes, entrega o cheque ao tesoureiro dizendo com um largo sorriso de satisfação!

- isto é um presente! Com os cumprimentos do Frances Lê Mât.

O tesoureiro arregala os olhos agradece e vai ligeiro ter com o Pároco.

O senhor continua.

- Você conseguiu com sua maneira doce de tocar e cantar esta música, que eu conseguisse descobrir o que me falta. E eu vou atrás dela seja onde for.

E foi saindo... Sorrindo!! Mât perguntou aumentando a voz para que o senhor ouvisse.

ATRÁS DO QUÊ? OU DE QUEM SENHOR?

- Da minha cigana meu rapaz! O grande amor da minha vida. Espero que não seja tarde! Vou procurar minha cigana, torce por mim.

E foi embora deixando Mât com um misto de satisfação e ansiedade.

Ele ficou ali parado, vendo um homem feliz afastar-se em seu belo automóvel.

O estranho é que parece que esse senhor tão gentil e feliz abriu uma enorme lacuna em sua vida. Para ser sincera. Foi como se ele houvesse aberto um portal do tempo! Mat só precisava passar por ele, mas ainda não tinha visto o portal a sua frente. Pois os portais são incógnitas.

...

 


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